16 de novembro de 2005

Empurrão no crescimento

O leve desaquecimento da atividade econômica registrado recentemente já está com os dias contados. Pelo menos é o que esperam especialistas, empresários e o governo, que apostam numa retomada do crescimento, ainda que não tão vigoroso, a curto prazo. Inflação sob controle, poder aquisitivo com pouco mais de fôlego e o fato de 2006 ser ano eleitoral influenciam esta análise.


Pesa até mesmo a mudança no calendário das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) para o próximo ano, que cairão de 12 para oito, o que pode levar a maiores cortes na taxa básica de juros (Selic), concentrados no primeiro semestre. Isso significa que o cenário aponta para uma recuperação mais rápida, com possibilidades de se enxergar os reflexos já no segundo semestre.


— Há espaço para fazer esses cortes por causa da inflação. A conseqüência é a chance de ter taxa de crescimento mais sustentável, de melhorar as expectativas dos agentes e ter mais investimentos — diz o economista da consultoria Tendências, Frederico Estrella, para quem o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescerá 3,4% em 2006.


Nas contas de Estrella, o BC encerrará este ano com a Selic -— hoje em 19% ao ano — em 18%, sendo que, no próximo semestre, decidirá por mais dois pontos percentuais de redução, fechando o ano a 15% depois de mais um pequeno corte no segundo semestre . O economista-chefe do ABN Asset Management, Hugo Penteado, é mais ousado e acredita em corte de três pontos entre janeiro e junho e, assim, já no período seguinte, a atividade começaria a reagir.


— Estou falando conservadoramente, porque podemos ter notícias boas no campo inflacionário. O mercado (financeiro) é muito instável, mas a economia não — analisou o economista, que prevê expansão do PIB de 3,5% no próximo ano.


Capacidade produtiva tem folga


No terceiro trimestre deste ano, a atividade econômica deu sinais de cansaço. Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que a indústria nacional encolheu 2% só em setembro, enquanto pelos dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) houve recuo nas vendas reais do setor de 0,66% no período. Mas as condições macroeconômicas deixam os empresários mais otimistas com o futuro.


— O uso da capacidade instalada da indústria diminuiu (era de 80,1% em setembro) e, por isso, não há risco para a inflação com cortes de juros mais fortes — afirma o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco.


Para ele, o movimento de recuperação deve começar já no quarto trimestre, com as festas de fim de ano. A CNI prevê crescimento de 4,4% da atividade industrial em 2005.


O governo tem uma percepção semelhante. Para o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), um dos conselheiros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesse campo, o cenário vai melhorar até o fim do ano, com o aumento da demanda agregada. Ele cita a liberação do décimo terceiro salário, que injetará R$ 30 bilhões na economia, o que significa mais consumo, e aposta que o país crescerá mais em 2006.


— Sem contar que estaremos em um ano eleitoral, quando são inauguradas mais obras e desengavetados projetos — diz o senador.


Uma fonte da área econômica também aposta na melhora do cenário ainda em 2005. Embora o Copom seja totalmente independente para tomar suas decisões sobre a Selic, existe a convicção de que, se não houver acidentes de percurso nos próximos meses, os juros tendem a seguir em queda. Pesquisa feita pelo BC na semana passada mostrou que o mercado revisou para baixo sua projeção para a taxa básica em 2006, de 16% para 15,5% anuais no fim do ano.


Combate à inflação é bem-sucedido


Os índices de inflação do país, de maneira geral, demonstram que o governo vem conseguido domar os preços. Mesmo com alguns escorregões. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), referência para o sistema metas do governo, subiu acima do esperado em outubro, chegando a 0,75%, acumulando no ano 4,73%, já próximo do alvo de 5,1% para 2005. As estimativas, no entanto, são positivas. O IGP-M, levantado pela Fundação Getulio Vargas entre 21 e 30 de outubro, ficou 0,16%, abaixo do 0,25% do período anterior, já dando sinais de enfraquecimento.

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