22 de setembro de 2017

Formação com demanda certa e exigência de reciclagem contínua

Faculdades têm o desafio de reformar o método de ensino para geração de novos profissionais; volume de vagas autorizadas para modalidade a distância quase empata com o volume de presenciais

O estereótipo associado à profissão de contador – figura taciturna, introspectiva, de atuação baseada em conceitos aprendidos na faculdade e de pouca interação com as demais áreas da empresa – não chegou a afugentar os jovens da geração Y, os “milênios”, nascidos a partir de 1980, quando estes começaram a chegar às universidades.

Em parte por causa disso, a demanda por curso contábil tem sido contínua, com fluxo estável de alunos nos últimos anos. “Esse curso sempre se mostrou atrativo, com o mercado sempre oferecendo garantia de emprego e, por isso, a demanda se manteve constante”, afirma Murillo Torelli Pinto, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. .

Mas, apesar desta estabilidade, as instituições enfrentam desafios para seguir formando profissionais para um mercado que mudou e busca contadores com novas habilidades. Em oposição ao modelo anterior, o profissional moderno deve estar em dia com os avanços tecnológicos, pronto a propor melhorias para o futuro da empresa e habituado à constante atualização sobre alterações de normas legais e fiscais.

Também é esperado do novo contador que proponha melhorias às áreas da empresa e esteja pronto para compartilhar informações sobre mudanças normativas. E para essas iniciativas também passam a ser exigidas habilidades de comunicação. Várias novas capacitações começa a ser agregadas à formação profissional.

Conhecimento transitório

Para realizar a necessária transformação entre perfis profissionais e ver os alunos saírem da faculdade capacitados de acordo com as novas exigências do mercado, é preciso realizar uma verdadeira reforma no modelo de ensino brasileiro, e isso leva tempo, reconhece João Otávio Bastos, presidente da Associação Brasileira das Universidades Comunitárias (Abruc), entidade que reúne 66 instituições de ensino superior com nota entre 3 e 5 no Índice Geral dos Cursos (IGC).

Segundo Bastos, além da peculiar necessidade de se manter atualizado sobre as mudanças das informações fiscais e legais, o estudante do curso de ciências c   ontábeis sofre com o modo ultrapassado do ensino brasileiro, que dificulta seu aprendizado. “Temos no País um modelo de ensino dos mais atrasados, muito centralizado na transmissão de conteúdo do professor para o aluno, o ‘conteudismo’. A relação entre informação e aluno deve transcender a sala de aula, inclusive por meio do uso da tecnologia”, diz Bastos.

Como agravante, há o vício educacional de usar métodos de memorização. Grande parte dos alunos do ensino médio costuma ser formada desta forma, decorando, afirma Bastos, e isso influencia a mentalidade com que eles chegam mais tarde às instituições universitárias.”Por isso, é preciso formar o aluno para que ele seja estudante o resto da vida, que ele mantenha o espírito de curiosidade.”

Desempenho a desejar

O método de ensino de baixa qualidade é visto como fator responsável pelo principal indicador de qualificação dos formandos na área. O Exame de Suficiência para contadores, obrigatório para formandos obterem o registro profissional, é famoso por seu baixo índice de aprovação, atualmente em torno de 25% dos inscritos na média nacional.

Para alinhar o conteúdo oferecido pelas faculdades com o que o mercado de trabalho espera, o Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo (CRCSP) tem se aproximado das instituições de ensino para mostrar formas de adequar o conteúdo. “É oferecida muita teoria. Percebemos isso nos argumentos que os recém-formados trazem no exame. Isso precisa mudar porque a demanda por profissionais da área exige outros tipos de conhecimento mais ligados ao dia a dia das empresas”, explica Gildo Freire de Araújo, presidente da entidade.

“Trata-se de um desafio oferecer um ensino com significado para os alunos de ciências contábeis, de forma que possam carregar o conhecimento para a vida toda. Isso é comum em muitos aspectos do ensino prático, mas como a necessidade de atualização é constante, o ensino fica perecível”, avalia Ronaldo Fróis, professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap).

Para aperfeiçoar a didática nas salas de aula e atender às necessidades do mercado de trabalho, deveriam ser feitas, segundo ele, duas alterações importantes na metodologia de ensino. Em primeiro lugar, a conciliação do ensino da prática com a teoria. “Um ensino que proporcione que o aluno carregue as bases de aprendiz para a vida toda”, destaca Fróis. Em segundo lugar, a conscientização dos jovens e futuros contadores de que estarão atuando em uma atividade prática. “Exige atualização constante a ser feita por meio da própria iniciativa.”

Ensino a Distância

Outra tendência nítida no panorama do ensino contábil são os cursos a distância (EAD). Hoje há no Brasil 91 cursos autorizados, com 210.061 vagas, volume um pouco inferior ao oferecido na modalidade presencial, de 227.615 vagas. Os principais atrativos da modalidade são a flexibilidade de horário, o custo reduzido o fato de dispensar deslocamentos. “O curso de contabilidade tem toda a vocação para ser adotado na modalidade à distância”, destaca o professor da Fecap.

Uma de suas conclusões é que, passada a primeira fase de experimentação da ferramenta, o público compreendeu seu funcionamento e desfez os primeiros equívocos. “O engodo do passado era a pessoa achar que o EAD é mais fácil”, observa Fróis. Hoje, já haveria o entendimento de que fazer o curso depende da capacidade de o aluno estudar sozinho.

Outra desmistificação dos cursos a distância também pode ser percebida pela expansão da idade de seu público. “Há cerca de dez anos o principal perfil que procurava esta alternativa tinha idade madura, hoje a modalidade também atrai a faixa dos mais jovens, entre 18 e 24 anos”, diz Fróis.

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