6 de setembro de 2005

Regras básicas na administração de empresas familiares

Faz-se necessário, inicialmente, entender o que queremos dizer por acionistas ativos e não ativos (ou inativos). Acionistas ativos são aqueles que fazem parte da gestão e/ou conselho da empresa. Acionistas não ativos ou inativos são aqueles que têm suas vidas próprias, independentes, sem qualquer vínculo com a gestão dos negócios da família, são apenas proprietários de ações/cotas, ou seja, simplesmente acionistas/cotistas. Acionistas não ativos precisam de tratamento muito cuidadoso.
A maioria das empresas familiares é composta por acionistas sem cargos na gestão da empresa e que participam ou não do conselho. Isto produz a maioria dos conflitos em função das diferentes perspectivas destes com os objetivos da empresa e seus projetos de vida próprios.


Algumas regras básicas podem orientar esses acionistas a encontrarem a maneira mais fácil de evitar conflitos e satisfazerem a todos.


1) Aceitar a existência de conflitos potenciais entre acionistas familiares ativos e não ativos e tentar lidar com a relação entre eles, de forma sistemática, buscando mecanismos de consenso. Uma grande parte das empresas familiares é controlada por membros familiares acionistas que não participam na gestão e/ou conselho da empresa. É salutar a programação de encontros fora dos negócios. Evitar, no entanto, datas festivas, aniversários, Natal, etc.


2) Procurar aproximar o acionista inativo e buscar o seu comprometimento e ajudá-lo a adquirir o conhecimento básico para entender o negócio. Como em qualquer atividade, o acionista vai exercer seu poder e ser remunerado de acordo com seu percentual de participação no capital. Esses acionistas precisam ter conhecimento das suas responsabilidades com relação ao negócio e seus funcionários. Todos os acionistas, sem distinção, devem ter um entendimento básico das estratégias empresariais, sua gestão e governança. Os inativos devem estar capacitados para ler os balanços e demais demonstrativos financeiros da empresa, pois terão de discutir assuntos que eles não entendem direito e que inevitavelmente levarão as discussões para um clima emocional, saindo do foco e enveredando para detalhes irrelevantes. Estudos mostram que famílias de origem germânica têm um alto déficit nesta área.


3) Encorajar familiares que, provavelmente, não têm e não terão posições executivas na empresa se tornarem financeiramente independentes dos negócios familiares, respeitando os direitos aos dividendos quando forem distribuídos.


4) Incluir sempre no conselho executivos não pertencentes à família que ajudarão a oxigenar a empresa e manter o respeito mútuo entre seus membros.


5) Restringir e, se possível, evitar relações de negócios entre membros não ativos e os negócios da família. Por exemplo, o filho do maior acionista é advogado, cujo escritório presta serviços jurídicos à empresa. A maioria das empresas não tem regras claras para esse tipo de relação. Aqui está um dos maiores pontos de conflitos entre os familiares. “Se ele pode, porque eu não posso?”


6) Estabelecer regras claras na demonstração de sinais exteriores de riqueza e status, tais como: lanchas, carros de luxo (particular ou da empresa), celulares, cartões de crédito, serviços de consertos nas residências, principalmente dos integrantes da família não ativos. Isto é o mais importante foco de conflito porque envolve a vaidade, a inveja, a desconfiança e o ciúme, além das disputas de poder entre os membros familiares. Nessas condições, as relações se tornam puramente emocionais e os resultados, os piores possíveis.


7) Estabelecer regras transparentes para a composição do conselho de administração ou do conselho consultivo. Esse conselho é o instrumento-chave para controlar como a empresa familiar deve ser administrada.


8) O ideal é que a família e a empresa tenham a mesma orientação profissional. Boa governança requer gestão sistemática tanto da família tanto quanto dos negócios. Isto inclui habilitação e capacitação para todos inclusive, cônjuges e filhos.


9) Elaborar regras amarradas e fortemente vinculadas para comportamentos conflituosos. Um acordo bem feito, tipo código de ética e de conduta, pode ajudar a reduzir a extensão e o alcance dos conflitos. E, assim procedendo, faça perguntas, do tipo: Como a família se comporta em público? Como tratar mutuamente quando nós temos um problema? Como tratar com um problema fora da administração familiar?


10) Procurar as decisões de consenso. Não permitir que certos assuntos se alonguem indefinidamente. Uma boa maneira de superar estes assuntos intermináveis é usar a regra do 80-20, isto é, quando 80% está de acordo é bom para a maioria. Não se pode agradar a todos e sempre.


Lembre-se: a lei do bom senso não foi, nem será revogada!
 


Artur Brenner Peixoto é sócio da Adviser Asset Management


E-mail peixoto@adviser.com.br


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não do jornal Valor Econômico. O jornal não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso destas informações. 

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