30 de agosto de 2006

É preciso estar preparado para a pré-aposentadoria

É preciso estar preparado para a ‘pré-aposentadoria’

Rio – A chegada da aposentadoria pode trazer à tona alguns impasses: é melhor tentar a adaptação ao novo ritmo de vida, sem mergulhar no sedentarismo; ou a tentar manter o padrão de vida habitual com a renda de algum trabalho extra. Para evitar esse incômodo, o diretor da Perfil Consultores Executivos, Antonio Carlos Martins, diz o ideal é se preparar para, o que alguns especialistas chamam de, “pré-aposentadoria”.


– É importante que as pessoas comecem a pensar na aposentadoria dois anos antes de sua chegada. Se o indivíduo se aposenta aos 60 anos, aos 57 já pode procurar saber onde poderia continuar em atividade – sugere.


Dados do IBGE de 2005 apontam que um terço dos idosos ainda se encontra ativo no mercado de trabalho. A situação é mais freqüente entre os homens (43,9% contra 18,8% de mulheres). A estimativa é que, nos próximos 20 anos, o número de idosos no Brasil ultrapasse os 30 milhões de pessoas, representando quase 13% da população. A faixa etária de idosos aposentados com índices mais expressivos de atuação no mercado de trabalho está entre 65 e 69 anos.


– Hoje em dia é comum a pessoa continuar trabalhando após a aposentadoria. O idoso de 60 anos da atualidade tem outro perfil do de há duas, três décadas, tanto pelas ofertas de trabalho quanto a sua própria participação na sociedade ativa – diz.


Antonio Carlos alerta ainda que, de acordo com sua experiência de mais de 20 anos em recrutamento de executivos, a prioridade dos empresários em contratar aposentados é saber se eles estão aptos e dispostos para dar continuidade à profissão.


– Não temos tido recusa de nenhum empresário em admitir pessoas que estejam ao redor dos 60 anos, desde que os mesmos não mostrem patologia típica da aposentadoria – de ficar na frente da TV o dia inteiro ou então jogando xadrez na praia. É importante que a pessoa demonstre que está ativa – conclui.


Segundo diagnóstico do pesquisador André Urani, do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), a participação de aposentadorias e de pensões na renda das famílias metropolitanas dobrou desde o início da década de 80. Em 1981, aposentadorias e pensões representavam 15,41% da renda das famílias. Em 2003, a participação subiu para 29,22%.
– É graças a elas que a diminuição da renda domiciliar per capita não foi tão forte assim. No entanto, o problema é que aposentadorias e pensões têm prazo de validade. Uma hora esse amortecedor não vai funcionar mais – alerta.


Empresas criam programas de recrutamento para idosos


Pensando nas possibilidades de recolocação do idoso no mercado de trabalho, algumas empresas criaram projetos especiais para o recrutamento de aposentados. A rede de fast-food Bob’s, por exemplo, elaborou, há três anos, o Melhor Idade, onde os aposentados recrutados exercem a função de anfitrião de loja e prestam atendimento personalizado ao consumidor. A rede pretende contratar, até o fim deste ano, cerca de dez funcionários.
De acordo com o diretor de Recursos Humanos da rede Bob’s, Geraldo Gonçalves, o número de demissão entre os funcionários do programa Melhor Idade é bem mais baixo do que entre os demais.


– A responsabilidade dos funcionários do programa é impressionante. Com esse projeto valorizamos e damos oportunidade para quem já ultrapassou o período da juventude e precisa de trabalho – declarou Gonçalves.


Para Léa Maria do Nascimento, funcionária da empresa na Rua Uruguaiana, no Centro do Rio, o trabalho é necessário para ajudar nas despesas de casa.


– Não dá para viver com o salário da aposentadoria. Com o que eu ganho no Bob’s dá para ajudar o meu marido a pagar as contas, sem falar que a gente também pode comprar roupa nova – diz.


Para o mercado do Rio de Janeiro, somente para a capital, o Bob’s abrirá sete vagas. Os interessados podem entregar o currículo na AFAMAR ou fazer a inscrição através do site www.bobs.com.br. Os benefícios incluem seguro de vida em grupo, assistência médica, convênio em farmácia, alimentação na própria loja e uma carga horária de seis horas diárias.


Outra empresa que tem um trabalho voltado para a Terceira Idade é a rede de supermercados Sendas. Há nove anos, a empresa iniciou um projeto-piloto para a contratação de funcionários com mais de 55 anos. Hoje, são cerca de 1.500 funcionários com este perfil e a contratação já está inserida na rotina de seleção da rede.


– Começamos a observar nossos antigos funcionários envelhecendo dentro da empresa e mantendo sua capacidade. Foi aí que pensamos no projeto, como forma de trocar experiências com essa faixa etária – diz a diretora executiva de Recursos Humanos do Grupo Pão de Açúcar, Maria Aparecida Fonseca.


Ana Marques entrou no processo de seleção e há três anos e hoje exerce a função de economista do lar. Ela dá dicas dos produtos em ofertas da loja da Siqueira Campos, em Copacabana.


– Eu procurei emprego durante cinco anos e graças a Deus estou aqui, de onde não pretendo sair mais. O trabalho não me deixa sentir sozinha – diz a ex-secretária.
Em julho deste ano, o banco Santander abriu cerca de 160 vagas temporárias (de 90 dias) para idosos do Rio. Os funcionários-temporários fazem o papel de promotores, dando as boas-vindas e fazendo o pré-atendimento dos servidores da Prefeitura que chegam ao banco.


– O projeto foi formatado a partir da constatação do banco de que os idosos preferem ser atendidos por pessoas que conhecem, na prática, a realidade deles – declara o superintendente de ativação Hugo Alcântara Miguel.
 
 
Fonte: JORNAL O GLOBO

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