19 de janeiro de 2007

Número de idosos responsáveis por famílias cresce 61% no país

Número de idosos responsáveis por famílias cresce 61% no país

Tendência foi detectada pelo IBGE entre 1991 e 2000; eles dividem moradia com filhos, netos ou bisnetos
Um fenômeno intergeracional e econômico vem ganhando dimensão nos lares brasileiros: a quantidade de idosos que estão na condição de responsáveis pela família e dividem a moradia seja com filhos, netos ou bisnetos aumentou 60,8% na última década.
Em 1991, encaixavam-se nesse perfil 688 mil pessoas de 65 anos ou mais de idade, número que subiu para 1,1 milhão em 2000. Dentro ou fora de casa, a convivência entre indivíduos nascidos em épocas muito distantes vai se tornar, cada vez mais, uma situação rotineira no País, já que, ao longo dos anos 90, o grupo da terceira idade (ou melhor idade) cresceu a uma taxa média anual de 4%, mais do dobro do 1,6% observado na média da população.
A consolidação de novos arranjos familiares e o aumento da longevidade no País estão refletidos na Tábua Completa de Mortalidade, lançada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além dos indicadores divulgados anualmente, que são utilizados no cálculo do fator previdenciário, a publicação traz uma análise inédita sobre a condição familiar das pessoas com 65 anos de idade ou mais e de seus descendentes, realizada com base em números dos censos demográficos de 1991 e 2000.
?Se hoje podemos observar a maior representatividade dos idosos como responsáveis pela família, no futuro, isso vai ser muito comum, com netos, bisnetos e tataranetos convivendo com seus avós, bisavós e tataravós.
Quem chegou em 2005 com 70 anos poderá, em média, alcançar uma idade próxima de 85 anos. ?Estamos caminhado, a passos largos, no processo de envelhecimento?, observou Juarez de Castro Oliveira, gerente de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica do IBGE. Segundo ele, em 2050, deverão existir no País 48,9 milhões de pessoas com 65 anos ou mais de idade, sendo que 13,7 milhões estarão na faixa de 80 anos ou mais.
A pesquisa revela que, em 2000, 64% dos idosos respondiam por suas famílias, que muitas vezes se tornaram numerosas por agregarem filhos, netos e até bisnetos. O tipo mais comum de composição familiar encontrada pelo IBGE reunia, sob o mesmo teto, pais e filhos, situação vivida por 2,8 milhões de pessoas com 65 anos ou mais de idade. Embora sejam mais representativos em números absolutos, proporcionalmente, o maior aumento registrado ao longo da última década se deu no grupo de idosos que podem ou não ter filhos morando na mesma casa, mas sempre têm netos ou bisnetos.
CAUSAS
?Há múltiplas razões para isso. Além da existência de um maior contingente de idosos, há outros fatores, como os filhos estarem deixando a casa de seus pais mais tardiamente?, avaliou Oliveira. Ele ressaltou que as dificuldades financeiras também colaboram com o quadro encontrado pelo IBGE.
Outras situações podem estar por trás do grupamento familiar formado, exclusivamente, por avós e seus netos e bisnetos, como a morte prematura de um dos pais, a migração temporária e a dissolução familiar. Em 2000, havia mais de 466 mil idosos nessa situação – alta de 52,9% em relação ao início da década passada.

MULHER CHEFE DE FAMÍLIA
Também houve um forte crescimento das situações em que o responsável pela família é mulher, vivendo com um companheiro. O aumento ao longo da década foi de 557,9%, considerando pessoas que moram ou não com filhos, mas têm netos ou bisnetos dentro de casa. Nas casas onde residem apenas netos ou bisnetos, subiu 491,1%. Apesar do salto, as mulheres que respondem pela casa representam grupos ainda pouco numerosos, respectivamente 19,3 mil e 9,7 mil pessoas.
A pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Maria Lúcia Oliveira aponta dois efeitos das mudanças no universo familiar. O positivo é que elas podem proporcionar uma troca enriquecedora entre gerações. Mas também podem gerar conflitos. ?Muitas vezes as pessoas convivem em espaços físicos muito reduzidos, o que as deixa física e emocionalmente mais estressadas, em condições de pouco conforto?, disse, avaliando que o País ainda está ?muito mal preparado? para lidar com o envelhecimento de sua população.
 
 
Fonte: O Estado de São Paulo (04/12)

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