17 de outubro de 2016
Aviltamento de honorários x dignidade contábil
O trabalho dos Profissionais da Contabilidade é remunerado através do pagamento de honorários. Mas, o que são os honorários? O termo vem do latim “honorarius”, que significa feito ou dado por honra.
O trabalho dos Profissionais da Contabilidade é remunerado através do pagamento de honorários. Mas, o que são os honorários? O termo vem do latim “honorarius”, que significa feito ou dado por honra. No dicionário Aurélio, o conceito da palavra é “que há ou tem a honra do cargo sem o estipêndio conseguinte” ou a “remuneração pecuniária de serviços prestados – por aqueles que têm profissão liberal”. Vamos nos ater a segunda definição porque, em entrevista ao Mensário do Contabilista, o Profissional da Contabilidade Fábio Roberto da Silva, diretor executivo da NTW Contabilidade – Unidade Recife, fala sobre o aviltamento dos honorários contábeis, que é a prática de cobrar um valor aquém do que normalmente se recomenda.
Segundo o especialista, à primeira vista, cobrar mais barato diante dos concorrentes pode parecer uma boa solução para um mercado cada vez mais competitivo e inflacionado, mas é uma prática extremamente prejudicial e desleal com toda a classe por desvalorizar o trabalho contábil, seja ele qual for, e reduzir de forma geral os valores cobrados.
Os honorários contábeis possuem natureza alimentar, mas nem sempre representam uma remuneração digna aos Profissionais da Contabilidade, principalmente em tempos de crise financeira, como o que estamos vivenciando?
Com certeza. O profissional contábil até se assemelha ao médico e ao advogado, quanto à sua importância, ao seu caráter de confiabilidade e à necessidade de pronto atendimento. Quando procurado de forma tardia, pode comprometer a solução do problema. Alguns profissionais não têm ideia desta importância e até cobram honorários abaixo do que é praticado no mercado e até abaixo dos custos envolvidos na sua prestação de serviços, seja por não ter esta amplitude, seja por solidariedade a um amigo. Pela proximidade muitas vezes de um amigo confidente, o profissional contábil, conhecendo a real situação de seu cliente, busca adequar os seus honorários à possibilidade de pagamento do contratante e isto, numa época de crise como a que vivemos atualmente, pode permitir uma remuneração não digna à importância da profissão e da prestação de serviços, de fato.
O senhor considera que o aviltamento dos honorários contábeis é um grave problema enfrentado pelos profissionais da Contabilidade atualmente?
Este fato existe, mas não considero um grave problema enfrentado pelos bons profissionais da área contábil. Assim como existem médicos e advogados muito competentes em sua área de atuação, também existem excelentes contadores. Quando o empresário decide colocar a segurança fiscal, tributária e contábil da sua empresa na mão de um profissional qualquer, apenas pelos baixos honorários cobrados, a consequência é inevitável e o custo tende a ser bem maior. Creio que o grande desafio é poder oferecer os melhores serviços com um honorário mais baixo, mas que mantenha a sustentabilidade do negócio. Neste formato, podem ser oferecidos serviços até gratuitos de contabilidade que não terão aceitação na sociedade, dado o risco que será para o empresário seguir por este caminho. Eu posso até colocar o meu automóvel na rua e não pagar nada por isso, mas nada se compara a colocá-lo num estacionamento com segurança, pagando por este serviço. Creio que, com a necessidade de constante atualização, o profissional contábil torna-se um elemento essencial em qualquer empresa e um diferencial na tomada de decisões.
Quais fatores, a seu ver, estão contribuindo para o aviltamento dos honorários contábeis?
A crise tende a causar este efeito. Há um ditado popular que diz que o animal acuado se defende como pode. Devido ao desaquecimento do mercado em todas as áreas, cada empresa tende a reduzir seus gastos e muitas vezes a procurar profissionais que o ajudem neste objetivo, ainda que saiba que há um risco a correr nesta decisão. O profissional contábil, por sua vez, ao perder alguns clientes em sua carteira, vai em busca de novos clientes e sendo os honorários um provento de natureza alimentar, alguma coisa tem que ser feita para a sua manutenção. Na administração, sabemos que algumas receitas são necessárias apenas para cobrir os custos fixos, ainda que não gerem a lucratividade esperada. Assim o mercado vai se virando para passar esta fase difícil e que tem um efeito cascata.
O Contador deve definir o melhor preço possível para prestar o serviço completo e de acordo com a solicitação do cliente, mas que tal preço resulte em lucratividade final?
A sustentabilidade de qualquer negócio é a base, esta tem que ser medida e mantida. Se um cliente tem três atendimentos técnicos presenciais contratuais por mês, pode se reduzir para um ou até nenhum, de modo que se possa adequar os honorários aos serviços efetivamente realizados. Um contrato de prestação de serviços elaborado de acordo com as diretrizes do Conselho Federal de Contabilidade – CFC terá uma relação detalhada dos serviços que estão sendo contratados. Neste quesito, vale o exemplo do automóvel: se quero gastar menos no momento, não vou adquirir um carro com motor possante, pois tende a consumir mais combustível. Vou procurar os mais econômicos. Também não vou colocar acessórios opcionais na aquisição, pois o veículo sairá mais caro. Assim deve ser o contrato de prestação de serviços contábeis. Haverá um valor mínimo para manter a sustentabilidade do negócio e outros serviços opcionais que dependerão da comodidade e poder aquisitivo de cada cliente.
Qual sua opinião sobre a Contabilidade online, que oferece serviços bem mais baratos do que um escritório de Contabilidade tradicional?
Creio que este formato deve ter seu público específico. Existem negócios muito pequenos que na fase inicial podem ser atendidos perfeitamente por este modelo. À medida que a empresa cresce, este formato não mais atenderá às necessidades de gestão tributária, administração de pessoas e tarefas, análise de oportunidades, entre outras discussões que um profissional contábil poderá auxiliar diretamente o empresário na administração e crescimento de seu empreendimento.
Há um perfil de contador que ganha bem?
Creio que sim. Aquele que planeja bem suas atividades administra o seu tempo no trabalho, com a família, com o lazer e, principalmente, com a sua fé, acompanha a sustentabilidade de seus negócios e que tem por meta manter seus clientes satisfeitos, pois estes são considerados a “galinha de ovos de ouro”. É bem verdade que são poucos, mas que estão surgindo de forma crescente.
A profissão pode ser muito bem remunerada, mas a alta remuneração é condizente com a responsabilidade que cada um tem?
Deve ser. Um erro contábil pode trazer prejuízos enormes até mesmo para pequenas empresas e, por outro lado, um bom profissional contábil pode trazer bons retornos de investimentos, conseguir formatar planejamentos que minimizem a carga tributária e até ajudar na tomada de decisões importantes. Costumo dizer que um bom profissional se paga, pois o retorno que ele traz à empresa é bem maior que os valores nele investidos.
A empresa contábil recebe valores pelos serviços prestados. A maioria delas presta serviços mensais e fixos, geralmente remunerados com valores mensais uniformes. É cobrado à parte quando o serviço é eventual. Em sua opinião, a tarefa de definir o valor dos serviços tem trazido muita dor de cabeça aos gestores contábeis?
Na prática não vejo muita dor de cabeça na definição dos valores dos serviços. É como uma empreitada de construção civil. Definimos o preço de cada serviço específico e, no fechamento do pacote, fechamos com um desconto especial que fique bom para ambas as partes. Assim saem todos satisfeitos. Quem não sabe o custo de cada minuto de um profissional do seu escritório, o tempo gasto em cada atividade, o valor mínimo que poderá cobrar por serviço, aí sim terá dor de cabeça, pois terá que decidir no escuro, sem as informações básicas necessárias e o risco de ter prejuízos é bem maior. Confesso que não são muitos escritórios que já têm esta visão administrativa, mas quem não se adequar por este caminho será ultrapassado pelas novidades do mercado e perderá clientes com certeza.
A seu ver, o Conselho Federal de Contabilidade – CFC deveria intervir para definir uma tabela mínima de preços aos profissionais?
Não vejo que este seja o melhor caminho. Devemos seguir o caminho já trilhado pelos profissionais médicos e advogados, que é a livre concorrência. O CFC e os CRCs estaduais podem até disponibilizar, como já fazem hoje, tabelas referenciais que nos ajudam na formatação do pacote de serviços, mas não vejo com bons olhos o fato de tentar intervir no mercado. Um fator que ajudará bastante são as fiscalizações dos conselhos contábeis sobre os profissionais que não se atualizam que não respeitam as normas já existentes da profissão, que não participem ativamente dos órgãos da classe. Estas fiscalizações devem ser constantes e crescentes. Assim, a profissão será, a cada dia, mais reconhecida pela sociedade como um todo.
Fonte: Portal Dedução
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