18 de outubro de 2005

Google limita-se aos links patrocinados

Dono do site de busca mais usado do mundo, o Google pode ser o símbolo ideal da fase tumultuada pela qual passa a internet, mas adota uma estratégia de negócios bem ortodoxa frente a seu papel e à própria turbulência do setor. É isso o que fica claro com a primeira entrevista que a direção da subsidiária brasileira concedeu, ontem, quase quatro meses depois do anúncio da abertura do escritório.


A anúncio alimentou as especulações de que a empresa poderia criar novos modelos para ganhar dinheiro com seu site de relacionamento, o Orkut, cuja aceitação explodiu no Brasil: hoje, 74% dos 5 milhões de membros dessa rede estão no país. Isso, porém, não vai acontecer. “Não existe nenhuma intenção de fazer algo com a lista de membros do Orkut”, diz Alexandre Hohagen, diretor-geral da empresa no país.


Isso não é incomum, afirma o executivo. Outros serviços que têm despertado interesse no exterior, como o site de mapas Google Maps, também não são fonte de receita, diz ele. Por enquanto, os negócios da multinacional baseiam-se em um único foco – os links patrocinados.


Trata-se de um mercado no qual o Google enfrentará, no Brasil, um de seus principais adversários globais: o Yahoo. A concorrente chegou antes e abriu, em outubro, uma operação da Overture, sua subsidiária especializada na venda dos links. Em abril, a Overture comprou a rival TeRespondo, que já atuava no país há seis anos.


Além do Yahoo, é possível que em breve o Google também tenha de enfrentar diretamente o MSN, da Microsoft. A companhia testa seu próprio serviço de link patrocinado na França e em Cingapura, embora ainda não tenha definido quando pretende lançar o modelo comercialmente em outros países.


Nos links patrocinados, as empresas compram palavras-chave – como “flor” e “automóvel” – para aparecer numa relação ao lado das respostas às pesquisas dos usuários sobre esses temas. Quem paga mais, aparece primeiro.


Nos Estados Unidos, os links patrocinados já representam 40% de toda a mídia on-line, o equivalente a quase US$ 4 bilhões, diz Emerson Calegaretti, gerente de vendas do Google. No Brasil, a publicidade na web representa 1,7% dos gastos de mídia, algo em torno de US$ 100 milhões, diz o executivo, embora não existam dados de quanto vai para os links patrocinados.


Formado em jornalismo e publicidade, com pós-graduação no país e especialização em gestão no exterior, Hohagen passou por empresas como ABN Amro, Universo Online (UOL) e HBO antes de ir para o Google.


No curto prazo, a atenção do executivo ficará concentrada na montagem da equipe, que terá 20 pessoas e deve ficar pronto até o fim de novembro. Esse grupo não inclui os profissionais da antiga Akwan, que foi adquirida pelo Google e teve as instalações, em Minas Gerais, transformadas em seu primeiro centro de desenvolvimento na América Latina. “Os engenheiros vão responder diretamente ao centro de tecnologia em Nova York”, explica Hohagen.


A despeito da ênfase nos links patrocinados, ainda é difícil saber quais serão os próximos passos do Google no país, onde o site é usado por 18 milhões de usuários por mês. A empresa não divulga o número de anunciantes que reúne no Brasil – o serviço de links já estava disponível, mesmo sem o escritório -, nem quanto o país representa no faturamento global.


Hohagen diz que a companhia prepara, para o início de novembro, uma “coisa que vai movimentar o mercado”, mas não dá detalhes sobre o assunto. Os serviços internacionais que vão ganhar versões em português também não estão definidos. “Na próxima semana haverá um encontro com os presidentes das subsidiárias para definir as prioridades em cada região”, afirma o executivo.


No campo internacional, outra incógnita cerca o Google. Nas últimas semanas, têm proliferado as notícias de que tanto a companhia como o Yahoo e o MSN negociam a compra da America Online (AOL). “Não tenho nenhuma informação oficial”, diz Hohagen, “e nem sei se os rumores são verdadeiros”. (JLR)

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